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Mais Abraços // Quinta-feira 3 Agosto, 2023 // #gravidez, #sexo do bebe
Em tempos em que chás revelação se tornaram uma febre e saber o sexo do bebê virou uma verdadeira obsessão entre mães, pais e familiares, a “tabela chinesa da gravidez” ganhou popularidade na internet como uma suposta forma de descobrir essa informação com antecedência.
Os defensores do método dizem que a eficácia supera os 90%. Mas não é isso o que diz a ciência: trabalhos que avaliaram a técnica não encontraram qualquer evidência de que ela funcione de verdade. E é sobre isso que falaremos ao longo deste artigo. Vamos lá?
Trata-se de um método que se baseia no calendário lunar e na idade da mãe no mês da concepção (quando o espermatozoide fecunda o óvulo) para determinar se o bebê é do sexo feminino ou masculino.
Há várias lendas que circulam na internet sobre a tal tabela. Uma delas diz que o método era usado durante a Dinastia Qing (que durou de 1644 a 1912). A versão original da tabela teria sumido por volta de 1900.
Mais para frente, nos anos 1970, ela teria sido localizada na Inglaterra ou na Áustria por historiadores chineses.
Desde que foi resgatada, ela é publicada com regularidade no Almanaque dos Fazendeiros Chineses, um meio de comunicação local. Vale destacar que o sistema segue a lógica do calendário lunar, que tem uma série de diferenças em relação ao calendário que usamos no Ocidente, o gregoriano.
Outra lenda aponta que a tabela chinesa foi encontrada no túmulo da família real da Dinastia Qing e o documento original teria mais de 700 anos.
Uma terceira história defende que o método era originalmente usado por imperadores chineses para determinar o sexo de seus descendentes — assim, eles sempre teriam filhos homens, que eram vistos como sucessores mais desejáveis na cultura local.
Independentemente da origem, a tabela chinesa usa duas informações: a idade lunar da mãe (no calendário chinês) e o mês em que a concepção ocorreu. A idade lunar é calculada somando um ano à idade do registro habitual, exceto caso a mulher tenha nascido em janeiro ou fevereiro.
O cruzamento desses dados na tabela permitiria então estabelecer o sexo do bebê que está em desenvolvimento.
Para facilitar a vida dos futuros mamães e papais, o Mais Abraços criou uma calculadora baseada no método para predizer o sexo do bebê. Veja aqui qual será o sexo do seu bebê segundo a tabela chinesa. Mas lembramos que ela é pensada apenas para ser apenas uma diversão e não é um método cientificamente comprovado.
A resposta mais curta para essa pergunta é “não”. Vamos aos motivos e às evidências científicas.
Um estudo feito na Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, avaliou uma enorme base de dados, que reúne informações sobre mais de 2,8 milhões de nascimentos que ocorreram entre 1973 e 2006 na Suécia.
Os cientistas então fizeram o cruzamento da idade lunar da mulher com o mês da concepção para estimar qual era o sexo dos bebês que nasceram.
O resultado? A tabela chinesa teve uma eficácia de 50%, muito próxima ao grau de aleatoriedade das situações em que existem duas opções possíveis (menino ou menina).
“Concluímos que a tabela chinesa não é melhor do que jogar cara ou coroa para predizer o sexo do bebê”, escrevem os autores. “Sugerimos, então, que os futuros pais não pintem as paredes do quarto do bebê baseados apenas nos resultados obtidos a partir desse método”, brincam.
Uma experiência parecida foi conduzida na Escola de Medicina da Universidade de Hanover, na Alemanha. Os especialistas analisaram 6,7 mil nascimentos, que ocorreram entre 2000 e 2006 na cidade.
A conclusão: não existe qualquer influência do ciclo lunar no momento do parto, em complicações na hora do nascimento ou no sexo do bebê. Os acadêmicos alemães classificaram o método como um “mito”.
Além das pesquisas científicas, a tabela chinesa da gravidez foge à lógica. O médico Pedro Pinheiro, em artigo escrito para o portal MDSaúde, listou alguns questionamentos que mostram as falhas desse método:
Como saber o dia e mês exatos da concepção, em que os gametas masculino e feminino se fundiram, uma vez que o espermatozoide permanece viável no corpo da mulher por até cinco ou seis dias?
Qual a influência do homem nesse contexto, já que é o espermatozoide que fornece o cromossomo X ou Y, que vai definir o sexo do bebê?
Como explicar os casos de mulheres que têm gêmeos, cada um de um sexo diferente?
Se a tabela é confiável, porque a linha sucessória dos imperadores chineses contou com várias mulheres ao longo da história?
Em suma, não. A tabela chinesa da gravidez pode funcionar como um passatempo e uma forma de diversão, mas os resultados não devem ser levados a ferro e fogo, porque há o risco de uma decepção — imagina como ficam os pais que esperavam (e se prepararam) para uma menina e se veem diante de um menino (ou vice-versa)?
O melhor caminho para saber o sexo do bebê, que é recomendado por todas as sociedades médicas, são exames como a sexagem fetal e o ultrassom. O primeiro é feito a partir de uma amostra de sangue, colhida da 8a semana da gestação em diante.
Já o segundo teste permite ao especialista determinar com um alto grau de certeza se é menino ou menina ao redor da 16a a 20a semana da gravidez.
Assim, fica muito mais seguro organizar o chá revelação.
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